quarta-feira, 2 de julho de 2008

WALL-E


Por Fernando Rodrigues
Comecemos sem hipocrisia: não dá pra julgar um longa antes de assistir, mas eu já imaginava que de certa forma, WALL-E seria um grande filme. Digo isso pelo fato de que não tem como deixar de levar em conta o histórico avassalador de uma empresa como a PIXAR. De Toy Story (que continua sendo meu favorito), a Os Incriveis, Procurando Nemo e o mais recente Ratatouille, é de se esperar um certo padrão de qualidade. A sala do cinema (cheia, logicamente) estava empilhada de crianças, mas havia alguns adultos ali. E eu nem me importaria se não tivesse (como aconteceu com Carros), já que eu sei que a partir do momento que as luzes se apagassem e eu me deixasse levar pela ilusão do cinema, ficaria totalmente atraido por um desenho (permitam-me usar este termo) que agrada igualmente adultos e crianças, por possuir charme e acontecimentos inventivos que qualquer garoto se amarra, sem deixar com isso de construir um roteiro inteligente com personagens interessantes.

Neste quesito, WALL-E é a obra prima da PIXAR. Do momento em que vemos os créditos iniciais (com a ótima Put Your Sunday Clothes, mostrada frequentemente em um VHS) somos apresentados ao robo que dá nome à história, e a cada minuto conhecemos mais aquele indivíduo e descobrimos que seu charme, curiosidade a tudo que o cerca (repare o interesse que ele meche nos lixos) e um jeito bem humano conseguem a difícil tarefa de carregar a primeira parte da projeção nas costas (e digo difícil porque até certo ponto ele é o único personagem na tela e a capacidade do longa não entediar as crianças é digna de aplausos). Com a chegada de EVA, inicia-se um lento relacionamento, e aos poucos nos envolvemos com a dupla, em momentos que fluem como o de bons (e raros) filmes de Hollywood.

Técnicamente, o filme brilha, dando um pequeno passo à frente das obras anteriores da PIXAR. Mas fica o aviso: apesar de contar com sequencias plásticas absolutamente belas (como o balé espacial), o destaque de WALL-E foi mesmo a narrativa, portanto não esperem ver cenas de ação de cair o queixo como em Os Incríveis. Isso demonstra que o objetivo dos criadores foi produzir mais um bom filme do que um espetáculo visual. Destaque interessante também são as ótimas refencias, e aqui Kubrick ganha destaque com seu Odisséia no Espaço (um filme de 68, diga-se de passagem). O AUTO assume a forma de HAL 9000, o clássico robo de 2001. Além disso, seu memorável tema é ouvindo em certo momento, como também a música Blue Danube (que está no filme de Kubrick). São homenagens inteligentes e sutis, que demonstram o carinho da PIXAR pelo público mais velho.

Pecando apenas por desenvolver um terceiro ato que poderia causar mais impacto (algo que ocorreu com o ótimo Happy Feet, para dar um exemplo), WALL-E acaba criando um climax divertido, porém que não faz nenhuma rima na narrativa com seu inicio grandiosíssimo . Mas isso, de maneira alguma prejudica o resultado final. A genialidade das mentes por trás da PIXAR parece nunca esgotar, e essa é só mais mais uma prova de como é possível criar um filme sólido e cativante, que os pais vão querer sentar ao lado de seus filhos para assistir.

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